REQUALIFICAÇÃO URBANA: UMA ANÁLISE CRÍTICA DOS DISCURSOS DE SUSTENTABILIDADE E “EMBELEZAMENTO” DO “BEIRAL
estética urbana, turisficação, gentrificação, justiça socioambental.
A urbanização na Amazônia tem sido marcada por intervenções que, sob discursos de sustentabilidade e modernização, frequentemente desconsideram os modos de vida tradicionais e os direitos das populações locais. O caso da requalificação urbana do bairro Caetano Filho (antigo Beiral), em Boa Vista (RR), com a construção do Parque do Rio Branco, exemplifica esse padrão. A ausência de participação popular no planejamento e a remoção de comunidades ribeirinhas evidenciam uma lógica de exclusão territorial e cultural, sustentada por discursos que legitimam a mercantilização do espaço urbano em detrimento da justiça socioambiental. O presente trabalho tem como objetivo geral analisar como os discursos de sustentabilidade e embelezamento, associados à requalificação urbana do Beiral, articulam-se às dinâmicas de exclusão territorial e ambiental, impactando os direitos socioambientais e culturais das comunidades tradicionais. Parte-se de uma perspectiva crítica da requalificação urbana sob a égide do embelezamento e refuncionalização turística. A pesquisa se desenvolverá com base em revisão bibliográfica interdisciplinar e análise crítica do discurso, ancorada na perspectiva de Michel Foucault (2014, 2019), que compreende os discursos como práticas de poder que produzem verdades e moldam a realidade. Também são utilizados aportes teóricos de David Harvey (2018), Henri Lefebvre (1991) e Carlos Walter Porto-Gonçalves, entre outros, para discutir os processos de gentrificação, turistificação e exclusão socioespacial. A análise está orientada por três eixos: produção do espaço, acumulação por espoliação e governamentalidade ambiental. Toma-se com pressuposto que a requalificação do Beiral, ao promover uma estética urbana voltada ao turismo, silenciou memórias coletivas, desmobilizou redes socioeconômicas tradicionais e reforçou desigualdades étnico-raciais. A estetização e a mercantilização do espaço urbano, sob o discurso da sustentabilidade, atuaram como dispositivos de poder que naturalizam a exclusão. Nesse sentido, o Parque do Rio Branco materializa a contradição entre os interesses econômicos e os direitos territoriais, exigindo abordagens mais inclusivas e participativas para a construção de justiça socioambiental na Amazônia urbana.