CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL SOBRE SERPENTES E ETNOECOLOGIA NA VILA TEPEQUÉM, AMAJARI – RORAIMA
Fauna de Serpentes. Aspectos Culturais. Diálogo Interdisciplinar. Conservação.
Os seres humanos sempre interagiram com a fauna de diversas formas e passaram a conhecer, nomear e classificar os animais de acordo com suas preferências, aversões, sentimentos e necessidades. Dentre a grande variedade de animais com os quais as pessoas interagem, o grupo réptil das serpentes é um dos que mais despertam sentimentos antagônicos, considerando que mesmo sentindo medo, as pessoas também reconhecem que esses animais são importantes para o ecossistema. Esses enfoques são abordados pela Etnoecologia, uma ciência interdisciplinar, que dialoga com a Antropologia em busca de contribuições para se pensar a conservação ambiental e a valorização do conhecimento ecológico local a partir da compreensão do comportamento humano perante o ambiente. Considerando a importância de entender como os seres humanos se relacionam com a fauna de serpentes e qual o resultado dessas relações no estado de conservação do grupo réptil, a partir de uma abordagem interdisciplinar, o presente estudo buscou analisar o conhecimento ecológico local e a relação dos moradores com a fauna de serpentes da Vila Tepequém, considerando os aspectos culturais e ecológicos e as implicações para o estado de conservação destes animais. A Vila Tepequém, está localizada no extremo norte do estado de Roraima, distante aproximadamente 200 km da capital, Boa Vista. No total, 36 pessoas (08 mulheres e 28 homens) participaram deste estudo, sendo estes, brasileiros, maiores de 18 anos, garimpeiros e ex-garimpeiros, moradores da Vila há mais de dez anos. Os informantes foram selecionados intencionalmente por meio da técnica de Bola de Neve (Snowball), e as informações foram coletadas por meio de entrevista semiestruturada, lista livre e conversas informais. A interpretação dos dados ocorreu a partir de Análises de Conteúdos, Teste de Regressão Múltipla e Nível de Fidelidade (FL). Para ampliar a compreensão dos resultados, as narrativas foram interpretadas à luz das teorias antropológicas do Arco Cultural e Tipologia de Kellert. De modo geral, os informantes demonstraram conhecer os principais aspectos ecológicos da fauna de serpentes, tais como: habitat, dieta, reprodução e sazonalidade. Porém, os caracteres utilizados para diferenciar serpentes peçonhentas e sem peçonha geraram equívocos e identificações errôneas. Além disso, foi possível compreender que os aspectos culturais influenciam de forma positiva a conservação da fauna de serpentes, e as lendas existentes na região contribuem para uma visão positiva a respeito desses animais. Assim, entende-se que o conhecimento ecológico local dos moradores da Vila Tepequém deve ser considerado para se pensar estratégias de conservação animal, tanto a nível local, quanto em abordagens de maior escala.