Português como Língua de Acolhimento (PLAc) e Letramentos Críticos: análise das
experiências em um curso com migrantes venezuelanos
Português como Língua Acolhimento. Letramento Crítico. Migração. Roraima.
Autonarrativas.
Roraima, no âmbito nacional, se destaca pelo fluxo migratório intenso, o que resulta em significativas
mudanças locais nas dimensões culturais e linguísticas. Essas transformações refletem-se também na área educacional, sobretudo no que diz respeito à necessidade de iniciativas de ensino de Português Língua de Acolhimento (PLAc), as quais têm sido propostas em Boa Vista-RR principalmente pelas universidades. Nesse cenário, insere-se o curso de “Português para migrantes venezuelanos”, da Universidade Estadual de Roraima (UERR) que não se limita ao ensino da estrutura da língua apenas, mas vincula-se às concepções de Língua de Acolhimento (LAc) e Letramentos Críticos (LC) para dar conta da complexidade subjacente a esse contexto de aprendizagem de uma língua adicional em situação de migração forçada. O objetivo geral deste estudo é investigar como o ensino de PLAc pode ser articulado e implementado em ações pedagógicas e de extensão sob a perspectiva dos LC. De forma mais específica, busca-se: 1) identificar, na prática docente das professoras que atuaram no referido curso, indícios de LC; 2) analisar, nas autonarrativas das educadoras, traços que evidenciam a formação de uma identidade docente crítica; e 3) verificar como os materiais didáticos utilizados no curso de extensão incentivam práticas de LC. Em termos teóricos, a pesquisa se ancora na Linguística Aplicada Crítica (LAC), à luz de uma abordagem transgressiva, com base em autores como Moita Lopes (2006), Leffa (2016), Beviláqua et al. (2024), Zambrano (2021a) e Silva (2023), entre outros. São mobilizados os conceitos de "Letramento", "Letramento Crítico" e "Língua de Acolhimento", fundamentais para o estudo. Quanto à metodologia, esta é uma investigação de abordagem qualitativa-interpretativista, no viés da pesquisa (auto)narrativa. Os procedimentos metodológicos do trabalho incluem: 1) observação participante
nas aulas de PLAc do curso de “Português para migrantes venezuelanos”; 2) gravações de áudio e análise de
entrevistas semiestruturadas com os participantes; e 3) apreciação das atividades e dos materiais didáticos empregados no curso. Participaram da pesquisa duas professoras voluntárias que atuaram no referido curso como docentes. Resultados indicam que há padrões e semelhanças nas trajetórias formativas e nas perspectivas das duas professoras, sobretudo no que concerne às experiências educacionais que as levaram à educação crítica. A curiosidade, a sensibilidade ao contexto e a indignação necessária para a transformação social são alguns dos aspectos comuns às narrativas das duas docentes. A análise do curso também possibilitou perceber como os Letramentos Críticos operam junto ao ensino de língua mais tradicional, isto é, sem ignorar a aquisição do léxico e o estudo de regras gramaticais. Finalmente, a análise do material didático indica que a perspectiva crítica emerge de questões provocadoras, que instigam os aprendizes migrantes a conhecer seus direitos políticos, linguísticos, identitários e culturais.