FRONTEIRAS INFLAMÁVEIS: migração decorrente da comercialização do combustível na fronteira Venezuela-Brasil (Santa Elena do Uairén) e impactos econômicos e socioculturais
Migração rotativa. Economia subterrânea. Sobrevivência.
Na dissertação intitulada Fronteira Inflamável analisa-se a migração associada à comercialização de combustível (fundamentalmente gasolina) em Santa Elena de Uairén, capital do município Gran Sabana do estado Bolívar, na fronteira da Venezuela com o Brasil, além de alguns de seus impactos económicos e socioculturais mais imediatos. Para efeitos deste trabalho, entende-se por comercialização de combustível a atividade de compra do carburante (fundamentalmente gasolina, sendo o mais usado na Venezuela) nos dois postos de serviço da cidade de Santa Elena de Uairén, com a finalidade da sua revenda nas ruas, em fundo de quintais e nos postos clandestinos aos condutores brasileiros ou quem pratica a garimpagem na Sabana. Embora sendo uma dinâmica interna, a abordagem da migração associada a comercialização de gasolina parte da compreensão do processo de migração forçada ou compulsória trans fronteiriça massiva motivado pela crise económica, social e política na Venezuela de começo do século XXI e, a sua vez, da expansão de fronteira impulsada pelo Estado-Governo sobre os territórios tradicionalmente habitados pelas populações indígenas e seus conflituosos resultados. Nesse cenário, as economias subterrâneas associadas à garimpagem transformam-se num poderoso atrativo migratório e sua pratica numa estratégia de sobrevivência no aproveitamento da múltipla fronteira, internacional e etno ecológica. Assim sendo, aqueles que participam da comercialização do combustível são chamados “talibãs”, agentes dum ir e voltar definido quanto migração itinerante ou rotativa cuja finalidade é conseguir a remessa familiar a partir do dilatado ciclo de apropriação da gasolina. Porquanto os impactos dessa dinâmica, foram analisados o uso da gasolina como moeda de troca, a temporalidade experimentada pelos “talibãs” versus a permanência da reorganização na área comercial ao redor dos postos de gasolina e a reorganização das relações de poder na comunidade envolvida quanto expressão cotidiana do conflito que é rasgo característico da fronteira. O processo de inquérito parte da investigação bibliográfica e de publicações de atualidade, como jornais, revistas e páginas e outros sítios web, ademais do uso de dados secundários, de mais de 30 jornadas de observação etnográfica, incluindo também a aplicação questionários e realização de entrevistas abertas entre interlocutores inseridos direita ou indiretamente na mobilidade em estudo.