O IMPACTO DA MIGRAÇÃO E DAS EXPERIENCIAS NOS ABRIGOS DE ACOLHIDA: UM ESTUDO SOBRE TRAUMA PSICOSSOCIAL
Migração, abrigos de acolhida, trauma psicossocial
O fenômeno migratório venezuelano vem, nos últimos anos, espalhando milhares de pessoas por diversos países da América Latina. No Brasil, o Estado de Roraima se apresenta como a principal porta de entrada desta população. Uma das principais políticas nesse contexto foi a construção de abrigos para migrantes. Partindo desta realidade, intentamos investigar as possíveis consequências psicológicas causadas nessa população pelas violências vividas no processo migratório, considerando o abrigamento da população migrante como fator agravante para a instauração de um possível trauma psicossocial. As análises terão como base os conceitos de violência e trauma psicossocial, desenvolvidos por Ignácio Martín-Baró, nos quais o autor trabalha o aspecto social do trauma, conceito que deixa de ser tomado como individual e particular, e passa a ser analisado na sua dimensão social. O foco das análises recai não no indivíduo, mas nas relações sociais violentas a que este está submetido. O processo migratório é aqui interpretado como violento em múltiplos aspectos, desde as condições de vulnerabilidade que o sujeito estava submetido em seu país de origem, até as condições de acolhimento ao chegar em seu destino, com relações marcadas pela xenofobia, racismo, aporofobia e exploração de seu trabalho. Foucault aparece, também, enquanto referencial na compreensão dos abrigos como espaços de controle e exercício do poder, espaços que são tomados como possíveis agravantes na instauração de um trauma psicossocial. A pesquisa adota como metodologia a realização de entrevistas com sujeitos abrigados, além de visitas de observação das dinâmicas de funcionamento desses locais.