REDES SOCIAIS NA EXPERIÊNCIA MIGRATÓRIA DE MULHERES VENEZUELANAS EM BOA VISTA – RORAIMA
Migrações venezuelanas. Migração feminina. Gênero. Redes sociais.
Considerando a ampliação das migrações venezuelanas para Roraima e a participação crescente das mulheres nos processos migratórios recentes, este trabalho tem como objetivo identificar a configuração das redes migratórias e o processo de (re) negociação das relações de gênero de venezuelanas em contexto migratório em Boa Vista – Roraima. Desta forma, as discussões serão desenvolvidas em torno de três categorias centrais, quais sejam: gênero, redes sociais e migrações. Esse contexto analítico se justifica a partir da compreensão de que as mulheres participam ativamente e de forma independente na construção de projetos migratórios e, inclusive, na articulação e estruturação de redes migratórias. Assim, o recurso aos estudos sobre gênero demarca um posicionamento político e reflexivo que se volta para as desigualdades sociais baseadas no gênero e a forma como esses processos se manifestam nas migrações femininas. Além disso, atenta-se para a questão de que homens e mulheres vivenciam as migrações internacionais de modos distintos e, portanto, as reflexões buscam compreender quais são os desafios postos às mulheres migrantes venezuelanas antes da decisão migratória propriamente dita, durante o deslocamento e após a chegada à sociedade receptora. Neste sentido, os estudos sobre redes sociais fundamentarão as análises sobre as estratégias desenvolvidas no processo de enfrentamento às dificuldades, proteção e cooperação entre as mulheres. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro mulheres venezuelanas que residiam em Boa Vista, pelas quais foi possível conhecer as histórias de vidas, as dificuldades, os dilemas, buscando conhecer as migrações a partir dos relatos das próprias mulheres migrantes, valorizando o modo como elas compreendiam as experiências diárias. Os resultados obtidos durante a pesquisa de campo indicam a atuação direta das mulheres na criação, na articulação e no fortalecimento das redes sociais, inclusive de redes migratórias; apontam que, em alguns casos, houve a (re) negociação das relações de gênero por meio da atuação nuclear das mulheres na administração de recursos e informações, além do sustento familiar. Entre outros aspectos, os resultados manifestam a necessidade de pensar e desenvolver políticas públicas voltadas para o enfrentamento às desigualdades sociais, que promovam o respeito às populações migrantes, sobretudo às mulheres, que garantam oportunidades de acesso ao mercado formal de trabalho, e que, por fim, promovam o acolhimento seguro e possibilidades reais nas transformações de vida buscadas pelas mulheres migrantes venezuelanas e suas famílias.