ESTUDO SOBRE TERRICIDIO A PARTIR DOS SABERES INDIGENAS DA ETNO-REGIAÕ SÃO MARCOS EM RORAIMA ENTRE OS ANOS 2000-2022
TERRA. TERRICIDIO. POVOS INDIGENAS
O conceito da terra para os povos indígenas vai além da denominação do espaço delimitado pelo Estado. É lugar místico onde narram seus contos, lendas e suas tradições. Do ponto de vista ocidental, a terra é compreendida como um espaço a ser ocupado ou conquistado, mas para os povos indígenas, a terra é entendida numa forma de um ser vivo que não se reduz ao espaço geográfico ou físico. É aí que surge a inquietação sobre o terricídio, constrói-se uma problematização sobre as visões de mundo indígena e não-indígena para questionar aquilo que se manifesta por meio dos movimentos sociais a favor da vida e da terra. É neste contexto que se coloca esta dissertação ao propor o contraponto entre o que é o entendimento ocidental sobre a terra como espaço geográfico a ser ocupado, cultivado, explorado e que, entretanto, gerou desmatamento, invasões de garimpeiros de forma desordenada e predatória, poluição, projetos agrícolas, hidrelétricos e disputas pelas terras. Em contraponto ao pensamento dos povos indígenas sobre terra e vida, para eles, a terra transcende os aspectos geográficos de lugar para a vida. A pergunta que essa dissertação pretendeu responder é: como os saberes indígenas entendem o terricídio? É um estudo interdisciplinar entre a Filosofia, Antropologia e História. O contexto social e político é um estudo do terricídio a partir dos saberes indígenas da etnorregião São Marcos no estado de Roraima-Brasil entre os anos 2000-2022. Os objetivos foram: pesquisar os saberes dos povos indígenas que possibilitam a suasobrevivência; identificar as situações que agridem a vida e a terra dos povos indígenas; problematizar a participação constitucional dos povos indígenas na gestão socioambiental. É uma pesquisa teórica que se baseou nas fontes bibliográfica e documental. É bibliográfica porque traz as reflexões de caráter científico que embasaram a pesquisa a partir de textos, livros, artigos em revistas eletrônicas, websites e impressos de caráter científico. É documental porque buscou-se as informações confiáveis nos relatórios, decretos, cartas da lei, discursos e ofícios dos sujeitos sociais e políticos envolvidos no tema. Os povos indígenas matem até hoje a sua dimensão cultural, política, social e religiosa a respeito da sua visão sobre a terra, que é sinônimo à vida. Não é o povo que cuida da terra, mas é, pelo contrário, a terra que cuida do povo, providenciando os alimentos. O terricídio é uma forma de aniquilação das outras epistemologias e, etno-epistemologia supera a epistemologia ocidental que colocou o ser humano acima da terra e desvalorizando outros modos de conhecimentos como dos saberes indígenas, que não são apenas mitos, mas utilizam a linguagem mítica para transmitir os conteúdos do conhecimento. A verdade do mito não obedece à verdade da lógica ocidental, mas abre a possibilidade do diálogo do conhecimento para que os saberes indígenas possam contribuir à modernidade pelas leituras sobre o mundo decolonial.