O CONTROLE DOS CORPOS FEMININOS E O (DES)CONTROLE DA VIOLÊNCIA: uma análise da estratégia de resposta à VBG nos abrigos emergenciais de Boa Vista
Controle dos corpos; Migrações; Operação Acolhida; Violência.
Trata-se de um estudo interdisciplinar acerca da estratégia de resposta, adotada pelos atores/atrizes da Operação Acolhida, para o enfrentamento da violência baseada em gênero (VBG) que ocorrem dentro dos abrigos emergenciais em Boa Vista-RR. Em 2018, como um dos eixos de resposta, foram criados abrigos de acolhimento emergencial, bem como um sistema de enfrentamento à temática de violência de gênero - realidade em todo contexto de emergência humanitária pelo mundo. Desta forma, o objetivo do estudo foi investigar a efetividade desse sistema de enfrentamento averiguando se há, de fato, o controle da VBG dentro dos abrigos ou, se, esse controle é somente dos corpos, sobretudo os corpos femininos, induzindo à violação dos direitos dessas mulheres em contexto migratório e aumentando ainda mais sua vulnerabilidade. Para tanto, além de identificar o arcabouço normativo e teórico, buscou-se entrevistar as pessoas envolvidas nesse contexto para entender, pela perspectiva delas, a realidade e os desafios. Foram entrevistadas(os) agentes humanitários(as) que fazem a gestão desses casos dentro dos abrigos; as abrigadas que viveram ou vivem dentro dos abrigos emergenciais, bem como a rede pública da cidade que enfrenta diretamente esse problema social. A presente pesquisa foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas, considerando a observação participante e adotando, como método de interpretação, a etnográfica sociológica. Ao longo da investigação deparou-se com a complexidade do controle dos corpos, jogos de poder e interesses, bem como paradoxos entre a obrigação internacional de assistência humanitária, segurança nacional e preocupação de “não contaminação” do tecido social por “corpos indesejáveis”. Sendo assim, concluiu-se que há uma preocupação justa em prestar assistência a esses novos corpos migrantes, contudo, não se consegue mantê-los seguros no ambiente em que se propõem: os abrigos, expondo-os, muitas vezes, a violências ainda maiores.